Parto Humanizado Hospitalar
Relato da Beatriz Barbosa

Relato da Beatriz Barbosa

Muitas vezes planejamos e achamos que temos o controle de tudo. Aí vem a vida, joga água fria na nossa cara e nos mostra o contrário. Antes de eu começar meu relato, preciso comentar um pouquinho sobre o meu primeiro parto. Meu primeiro filho, Zion, nasceu de uma cesariana. Fiquei 17 horas em trabalho de parto, mas tive que ser levada a uma cesariana. Uma cesariana onde me sedaram e eu não vi o meu filho sair de dentro de mim. As reais circunstâncias desse procedimento nunca ficaram claras em minha cabeça, e foi um processo difícil superar as dores (físicas e emocionais) que esse parto me ocasionou.

Segunda gravidez, aí estamos! Novamente começo a busca por um parto humanizado, onde haja respeito, carinho, paciência, entendimento. Parece que atendimento humanizado e economia são palavras que não se encaixam, não combinam. Nas primeiras tentativas, percebi que teria que vender o carro para ter um parto humanizado, mas eis que me deparo com o Coletivo Nascer! Proposta incrível e, o mais importante, super acessível para que todas as mulheres possam ter a devida atenção e uma parto respeitoso. Decisão tomada! É com essa equipe que eu terei meu segundo filho!

Muitas coisas aconteceram nesse caminho: mudança de casa, descoberta de alteração na tireóide, diabetes gestacional, um cansaço que eu não senti na primeira gravidez. Mas tudo bem, um dia de choro, no outro a gente levanta e segue em frente!

Eu estava super confiante que minha querida Aliyah chegaria exatamente em sua dpp: 17/10. Me preparei para essa data e os planos seriam trabalhar até o dia 07/10, descansar alguns dias, cortar cabelo, fazer plano de parto, preparar playlist e, claro, descansar um pouquinho! Ha ha ha (essa é a vida rindo da minha cara!).

Na madrugada de domingo, 06/10, surgem os primeiros sinais. Levantei por volta das 2h30 para ir ao banheiro e voltei para a cama. Dormi mal, com uma sensação estranha, parecia estar sentindo dor. Fiquei assim até 3h30, quando levantei novamente. Não havia dúvida porque eu já havia passado por isso: as contrações estavam começando! Não acordei meu marido, afinal elas estavam bem fracas, até gostosas eu diria! Só para prevenir, mandei uma mensagem para a doula e a enfermeira do plantão, avisando o que estava acontecendo. Óbvio que não consegui dormir mais…Será que Aliyah estava se preparando para chegar a este mundo?

Fui ocupar a cabeça. Organizei umas coisas do trabalho, terminei de fazer as malas para o hospital, passar umas roupas que faltavam…e as dores vinham e voltavam, lentas, no seu ritmo, nada desesperador. Mando mensagem para a minha mãe por volta das 4h30, pedindo para que ela viesse o mais cedo possível buscar o Zion, não sabia como as coisas iriam acontecer e não gostaria que ele estivesse aqui nesse momento. Minha mãe chegou às 6h, já trazendo uma caixa de Buscopan, que a enfermeira havia indicado. Depois que meu filho foi embora, segui as orientações que me foram passadas: tomei um buscopan e fui me deitar.

Consegui tirar um bom cochilo, sendo acordada às vezes pelas contrações. Usei uma bolsa de água quente, o que ajudou bastante. Eu só pensava: Gente, não fiz plano de parto, não tenho playlist e talvez esteja prestes a ganhar o meu bebê! Mas tudo bem, a minha doula maravilhosa sabia exatamente o que eu queria desse parto: eu queria ver a minha filha nascer! Independente da via de parto, independente de qualquer circunstância, eu precisava ver meu bebê saindo de mim, não poderia em hipótese alguma ser sedada novamente.

Acordei por volta das 8h15. Senti uma contração bem forte e, nesse momento, a bolsa rompeu! Mandei mensagem para a enfermeira e fui direto para o chuveiro. Fiquei lá uns 10/15 minutos (a água faz milagres para a dor!). Depois que saí do banheiro, tudo começou a se intensificar…as contrações vinham mais fortes, em um pouquíssimo intervalo de tempo. Nesses pequenos intervalos eu falava com a doula e com a enfermeira e tentava colocar uma roupa. Nunca se vestir foi tão difícil!

O plano inicial era que a doula e a enfermeira viriam em minha casa para me examinar. Depois, com os ritmos que as contrações tomaram, decidimos nos encontrar no hospital. Fomos de Uber, eu precisava do meu marido (e também meu doulo) massageando as minhas costas de um jeito que só ele sabia fazer. O percurso mais longo da vida até o hospital. Nesse momento as contrações vinham muito intensas, já estava difícil controlar. 

Chegamos ao hospital às 10h40, direto para emergência. Meu marido me deixou sozinha em uma salinha e foi fazer minha ficha. Em menos de 10 minutos (acho) ele já tinha voltado e também a doula, a enfermeira e a obstetra. Todos ao mesmo tempo, em um tempo que pareceu cronometrado. Pelo menos pra mim! Rs

Entramos em uma sala para que eu fosse examinada. Nesse momento eu começava dizer: Gente, quero fazer cocô! Preciso fazer cocô! Aqueles sinais básicos que as coisas estão indo bem…rs. Na hora do exame de toque, a surpresa: dilatação total! Eu nem acreditava! Em pouco tempo eu conheceria minha linda Aliyah!

Fomos para uma outra sala, e eu continuava com aquela vontade de fazer cocô! Se me lembro bem, já havia me trocado e estava com a camisola do hospital. Novamente alguns minutos sozinha, enquanto todos vão se trocar. É engraçado contar a partir daqui, só do meu ponto de vista. Eu já estava em outro universo e me lembro de flashes do que aconteceu. Pedi para a doula me levar ao banheiro, eu queria me limpar (a história do cocô era mesmo verdade!). Fomos ao banheiro, e de lá não saí mais. Contração após contração, chuveiro nas costas, massagem da doula e do marido, tentando buscar a posição mais confortável. 

É nessa hora que ter uma equipe alinhada com suas vontades faz toda a diferença. Quando dei por mim, o banheiro estava com uma meia luz maravilhosa e eu ouvia meu querido Djavan cantando para mim ao fundo. Cenário perfeito! Tentei a banqueta, a doutora Luciana (maravilhosa) passou um lençol em suas costas para que eu pudesse puxar no momento das contrações. Funcionou por um tempo, mas logo ficou desconfortável. Eu estava um pouco desanimada, pois as contrações não vinham mais tão intensas nem tão doloridas (mal eu sabia que era porque o momento estava bem próximo). O que eu sentia sim era uma vontade enorme de fazer força. Eu imaginei que essa sensação não existisse já que no meu primeiro parto fui levada a fazer força sem sentir a menor vontade. Mas agora a vontade de empurrar aumentava cada vez mais.

Decidi mudar de posição. De joelhos, braços apoiados na doula, meu marido massageando minhas costas, chuveiro quente nas costas. A cada contração, uma sensação que não consigo encontrar uma palavra para descrever. A Aliyah estava descendo! Eu sentia ela descer cada vez mais, coloquei a mão e senti sua cabeça. Comecei a sentir que eu estava travando, não estava deixando ela sair. Falei para a doula. Então, a cada contração ela falava em meu ouvido, pedia para eu relaxar, deixar a Aliyah chegar. Comecei a relaxar, ouvi a música que estava ao fundo e acho que precisei de mais umas duas contrações. Aliyah simplesmente deslizou e foi parar diretamente em meus braços! Exatamente uma hora depois de dar entrada no hospital. A partir daí, toda a dor desapareceu como um milagre e é impossível descrever o que aconteceu naquele momento. 

Em seguida, direto para a cama, para o nascimento da placenta. A saída da placenta foi rápida e tranquila, sem nenhum tipo de problema. Meu marido e eu ficamos no quarto namorando nossa pequena por aproximadamente uma hora. 

Passar por essa experiência foi a coisa mais incrível que poderia ter me acontecido. E só assim eu pude entender e curar as marcas do meu parto anterior. E, falando em cura, em uma conversa com minha doula mencionei o quanto a Aliyah está sendo capaz de curar inclusive algumas marcas do puerpério anterior, como problemas com amamentação, ganho de peso, choro excessivo, etc. Brinquei e disse: “Nossa, demorei tanto para encontrar o nome da minha filha, agora acho que vou trocar e buscar um nome que tenha a ver com “cura”, já que é isso que este pequeno ser me está proporcionando”. Então a Débora responde: “Na verdade, só Deus é capaz de curar todas as coisas”. E qual é o significado de Aliyah? Mulher sensível, nome que vem de Alá. Poderia ser considerado Deus em sua versão feminina. Nada é por acaso, não é mesmo?

Termino o meu relato agradecendo principalmente à minha família e em especial ao meu marido que sempre está presente por escolha e não por obrigação (isso faz toda a diferença), à equipe do Coletivo que foi sem palavras (ainda sinto vontade de chorar quando lembro tudo o que fizeram), à Ana Cris (não a conheço pessoalmente, mas foi uma fada em muitos momentos da gestação), à minha querida mãe (sem ela nem consigo imaginar como seria), à alguns amigos especiais, à Débora (que sempre acreditou em minha capacidade) e à esta força incrível e sobrenatural, que muitos chamam de Deus. 

Este post tem um comentário

  1. Estou chorando faz 5 minutos depois de ler essa historia. Maravilhosa, empoderadora, me encheu de esperanças e tirou toda e qualquer dúvida sobre o tipo de parto que quero ter. Obrigada!

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