Parto Humanizado Hospitalar
Relato de Parto Bárbara

Relato de Parto Bárbara

Ana foi gravidez desejada. Temos 2 meninas Clara de 5 anos e Maria de 3, ambas vieram ao mundo por cesáreas agendadas fora de trabalho de parto. Tentamos um menino rs… Agendei com médico que sempre me consultei e na ligação descobri que ele havia falecido. Fiquei bem triste ele era de fato uma pessoa muito do bem. Esse consultório é familiar então tive a opção de agendar com a filha ou esposa dele, escolhi a filha. Uma fofa!

De maneira geral o pré natal foi tudo bem, estranhei a quantidade de exames e ultrassonografias que ela pedia, mas ia fazendo. Sem intercorrências importantes (glicemia no limite, anemia, asma, pedras nos dois rins com 1 internação de 4 dias, nada demais rs). Com mais ou menos 28 semanas a médica perguntou se eu ia fazer o parto com ela, eu que já tinha escolhido e conversado com a Doula sobre várias dúvidas sobre tentar um parto normal após 2 cesáreas, e dicas de hospital e equipe e etc. Respondi:

– Não. (e no meu pensamento eu tinha algumas certezas: Ana vai nascer quando ela quiser e estiver pronta, se eu tiver que pagar por um parto ele será natural, não vou pagar por outra cesárea agendada) não será possível doutora. Ela apesar do bom atendimento, e toda fofura mudou um pouco o tom comigo e disse:

-Ok. Então com 37 semanas você vai até o Santa Joana e agenda uma cesárea com o plantonista, você não pode entrar em trabalho de parto seu útero pode romper.

Eu respondi: – Ok. (e no meu pensamento:  eu também tinha a certeza que não ia me preocupar em discutir com ela sobre as minhas convicções e desejos e muito menos sobre a postura dela como médica, depois de muitos e muitos acontecimentos em 2018 eu só queria terminar a gestação em paz. Também não queria trocar de médico por esse motivo já que eu sabia que ia ser estressante e muito difícil encontrar alguém que aceitasse fazer um parto normal após duas cesáreas, continuei meu pré natal com ela e com uma coisa na cabeça: na hora que começar o trabalho de parto eu chamo a doula e vou para o plantão e ponto.)

 

Todo mundo me chamando de louca, eu nem falava mais de parto com ninguém. A Camila Medeiros me marcou num post no facebook de uma Equipe que chama Coletivo Nascer, não entendi nada, não me interessei estava num momento em que tudo era difícil… Só pensava que tudo estava muito caro, que não era pra mim, cansada, bem cansada (já tinha preenchido antes um link para ter o acompanhamento deles sem custos, mas não foi possível devido às benditas cesáreas e o meu parto tinha que ser com equipe completa e em hospital) já estava bem desanimada.

 

Um dia numa madrugada eu já com 35 semanas sem conseguir dormir, eu li um relato de parto feito por um pai. Chorei, chorei e chorei muito. Eu queria muito parir e já estava desacreditada e sem apoio, só levando a vida, eu e Eduardo já tínhamos discutido muitas vezes sobre o assunto, ele não entendia e nem se interessava, enviei o link do relato feito pelo tal pai onde o parto foi com a Equipe do Coletivo Nascer. Ele me respondeu:

-Eu li, é lindo, liga no Coletivo e vamos lá. Pergunta o que a gente tem que fazer, como funciona a questão do reembolso pelo convenio.

Nessa semana tinha até consulta com a outra médica. Mandei mensagem, a Ana Cris (mulher muito iluminada) respondeu prontamente, eu falei dos meus medos, das minhas dificuldades, e angustias quanto ao pagamento ela respondeu:

 

– Primeiro você vai parir depois a gente vê isso. Explicou os riscos brevemente quanto as cesáreas, mas em momento nenhum disse que eu não podia. Quando eu disse que estava de 35 semanas, ela falou que eu deveria ir à consulta com elas urgente já que a partir dali tudo podia acontecer a qualquer momento, eu só respondi:

-a hora que vocês puderem me atender eu vou, qualquer dia, qualquer horário.

 

Marcamos e quem me atendeu foi Dra. Renata Dourado e a parteira Silvia, sensacionais, eu não tinha outro sentimento que não fosse de alívio, pelo acolhimento, explicações, por tudo. Enfim eu tinha uma equipe. Passei a ir às consultas semanalmente, tive a experiências das consultas coletivas (amei, que idéia maravilhosa essa) eu nem sabia exatamente o que era coletivo, como funcionava, mas eu já confiava. Na consulta de 38 semanas, minha pressão que tinha sido normal a gestação inteirinha deu o ar da sua graça. Tive outra aula sobre como iríamos agir nesse caso, fazendo monitoramento e já preparando o colo para o parto tomando óleo de Prímula, e muitas outras orientações. Ana Cris falou:

-não queremos passar de 40 semanas, vamos já começar a pensar numa indução, com a pressão desse jeito, não queremos que piore e no final a tendência é subir mais.

 

Dra Patrícia Carvalho me atendeu e solicitou alguns exames… Mesmo com essa informação eu era uma pessoa muito tranqüila, sabia que estava em boas mãos. Seguimos a semana normalmente, monitorando, seguindo as orientações e a pressão: normalzinha… Na consulta de 39 (+3) semanas uma quarta-feira, era dia 06/02 levei meu aparelho e quando me colocaram o do coletivo a diferença era grande, estava alta, trocamos de aparelho e continuava alta, ou seja, descobrimos que meu aparelho de pulso não é eficiente e não foi testado em grávidas, todo o mapa não valeu de nada, vamos considerar o aparelho do consultório e PRESSÃO ESTÁ SIM ALTA, e com a alteração que tivemos no exame de urina 24hrs (proteína) temos um quadro de pré eclampsia. Dra. Patrícia e a Juliana (parteira) me atenderam, me explicaram tudo de novo, sobre tudo que podíamos fazer considerando as cesáreas anteriores, e o melhor a se fazer naquele momento era iniciar a indução. Entendi tudo e já me animei (vai nascer) nesse momento a Dra. Pati fez um descolamento de membrana… Muito humana, sensível, sabia exatamente todo o desconforto que eu ia sentir me preparou, Ju ali do lado o tempo inteiro ofereceu sua mão pra eu segurar. Dali fui almoçar e combinamos de voltar para colocarmos o balão e iniciar uma indução mecânica. Dra. Pati novamente me mostrou tudo explicou detalhadamente exatamente o que ia fazer. Dessa vez a Ju auxiliou e a Mika também estava lá me oferecendo sua mão, colocar aquele balão foi bem tenso, pedi uma vez para parar não estava suportando, respirei e recomeçamos, fiquei sem cor me disseram… Com todas as orientações sobre o balão fomos embora. Desde essa quarta Eduardo sempre junto calado, mas sempre ali em todos esses procedimentos. Falei para a Camila (doula) sobre tudo que fizemos, ela sugeriu eu comer algo que gostasse muito e relaxar, que o trabalho de parto poderia iniciar a qualquer momento. Já sabendo de toda a dificuldade da minha mãe com relação a parto, relatos de parto, nascimentos, cirurgias, sangue eu disse apenas:

– Mãe, minha pressão está alterada vamos induzir naturalmente, iniciamos uns procedimentos aqui na clínica amanhã voltamos já com a mala, pode ser que já inicie o trabalho de parto.

Sem detalhes e sem muita conversa ela é muito agoniada hahaha. Chegamos à casa da minha mãe, falei com minhas meninas, expliquei de uma maneira bem breve para minha irmã que estava curiosa sobre o que fizemos me despedi das meninas já que alguma coisa poderia acontecer durante a noite e fui para minha casa, tomei um banho comi comida japonesa que eu amo, deitei… Já com cólicas que a Pati disse que eu teria e até sugeriu buscopan, tomei… e tentei dormir. As 21:00 acordei com muita, muita dor… (não sabia que já eram contrações) andei pela casa, agachei, levantei, não tinha jeito, não tinha posição. Entrei no chuveiro aliviou… deitei de novo. Isso se repetiu muitas vezes até as 03:00, foram muitos banhos, muito desespero, eu queria socar a parede, queria puxar o balão, foi desesperador, que loucura, o que eu tinha inventado eu pensava… na ultima vez que levantei tive dor de barriga, fui pro chuveiro, voltei pro vaso para vomitar eu pensei no desperdício que foi vomitar aquele temaki maravilhoso que tinha comido… Eduardo lavou o banheiro as 03:00 comigo no chuveiro, e mais uma vez acalmou, deitei e dormi… até as 05:00. Foi tudo tão tenso que eu não acreditava ter dormido por duas horas e ter acordado tão bem… a sonda frouxa, sinal que algo podia ter acontecido, ajustei o esparadrapo como me orientaram e segui com as tarefas normalmente. Esvaziei a geladeira, fiz uma mala para as meninas para não atrapalhar a minha mãe com as tarefas dela, as 11:00 fui fazer xixi, senti uma cólica e escutei um ploc! O Balão caiu! Sorri e falei pro marido que estava no quarto:

– caiu !! sinal de que alguma coisa está acontecendo aqui…

 

Liguei para a parteira Ju para lembrar o que eu tinha q fazer (a gente absorve tanta informação e na hora que as coisas acontecem eu me esquecia o que eu devia fazer hahahaha) ela disse que se eu estivesse bem podíamos manter o horário da consulta e para eu ligar se tivesse mais alguma novidade… as contrações começaram a ficar mais doloridinhas… de meia em meia hora, nada demais, algumas vezes nem sentia nada… me despedi da minha mãe de novo, deixei as crianças na escola e fomos para o Quintal do Parque.  Enquanto estava na sala de espera a Paula uma outra parteira já me mostrando como ela era incrível me disse:

– Faz tudo que tem que fazer volta e me espera acabar o grupo da consulta coletiva que vamos colocar umas agulhas, pra ajudar na indução, eu disse que tudo bem e perguntei quanto custava, ela com seu sorriso largo me disse:

– Amiga é pelo coletivo, isso não é cobrado…

 

Uma linda.

Quando a Dra. Pati me chamou eu entrei falando:

 

-o balão caiu!!!

 

Ela me examinou e disse que estava evoluindo, estava de 4 para 5 cm de dilatação, fez mais uma massagem no colo (aquela lá dolorida pra cacete) e disse para eu ir caminhar, e voltar as 18:00 para novas orientações… Fui ao shopping caminhar, com contrações… o segurança de uma loja quando pausei para respirar fundo esperando a contração passar ele achou que ia parir ali mesmo… numa outra loja uma senhora me viu na fila preferencial e já foi logo perguntando:

– nasce quando?

Eu sorri e respondi:

-a qualquer momento, estou aqui caminhando para ajudar o trabalho de parto (rs) . Ela me olhou com cara de espanto quase pegando uma cadeira de rodas para eu sentar (que mania que as pessoas têm de abordar as grávidas na rua e sair falando e opinando… a essa altura eu já estava “tolerância zero” hahahaha)

Voltamos ao quintal e a Dra. Pati me contou como ia ser minha internação para acompanhar a pressão e indução. Paula me chamou e começamos os trabalhos de acupuntura… me orientou sobre o hospital e internação, me deu um óleo de rísseno para eu tomar quando chegasse no hospital, jantamos e fomos. Fizemos todo o longo processo de internação (com umas histórias bem particulares longas e engraçadas como ter tomado óleo de rísseno e estar preocupada com banheiro o tempo inteiro hahahaha) isso durou 06 horas, sim 06 horas para eu internar de fato. Chegamos ao quarto na sexta feira dia 08/02 as 04:00 da madrugada… ficamos lá… Dra. Renata veio cedinho fez mais uma massagem no colo com óleo de prímula, caminhei no corredor, contei os passos, multipliquei e descobri q andei em 15 minutos 1200 passos, o segurança do corredor deve ter me chamado de louca com toda certeza. À noite a Camila veio e conversamos, ela queria muito estar presente, mas tinha viagem marcada e nada da Ana sair, ela teve que ir, mas já tinha me indicado a Débora, que conversamos e eu super amei, quase 22:00 a Paula e a Mika chegaram com todas as suas agulhas e nisso eu já tinha passado a sexta inteira procurado alguém para uma sessão lá no hospital… elas fizeram acupuntura, rimos, aliás, morremos de rir. Paula deixou o marido com umas orientações de homeopatia deixou suas bolinhas comigo, fez mais uma massagem no colo com óleo de prímula eu suei (que dorrrr)…  me mantive firme. e conversei muito com a Ana pedindo pra ela se manifestar hahaha, rezei o terço e a oração de Nossa Senhora do Bom Parto várias vezes naquele dia… elas saíram do meu quarto mais de 23:00, que amor pelo que se faz, que carinho, que atenção…

 

Uma pausa para falar sobre a doula: Ela vai ficar com a gestante quando o trabalho de parto começa, ou quando combinam algo, ou quando a gestante pede. Estava tudo bem comigo, a Camila tinha uma viagem, tinha deixado uma back up, ela foi como visita, ela não precisava estar lá… Mas ela estava!

 

Dormimos e no dia seguinte (sábado) era o último dia de induções, nosso prazo era até completar as 40 semanas no domingo… Lá se foram mais 1200 passos no corredor, Dra Dani com mais uma massagem no colo com óleo de Prímula… contrações leves (até ai já eram mais fortes que as primeiras, mas muito leves perto das últimas hahahaha) sem ritmo e bem espaçadas, cochilei, acordei, Thaís Olardi chegou com suas agulhas maravilhosas… ela era indicação da Paula e eu relaxei… Thaís foi embora, mandei mensagem para a Paula, falando que tinha feito tudo que podia, não tinha sentido nada de diferente além daquelas poucas contrações, ela com certeza sentiu minha angustia por mensagem e brincou:

– amiga sabe o que ajuda? Sequiço (ela escreveu assim e eu não entendi de primeira hahahaha) continuou… aproveita que vocês estão no quarto e vão namorar nesse banheiro (ai eu entendi r s) respondi:

– olha que boa idéia e se ajuda eu topo, tem barra de segurança mesmo (hahahaha)… olhei pro marido rindo e li a mensagem da Paula ele riu e disse:

– se vai ajudar…  vamos fazer.

Levantei para jantar, quando fui colocar a bandeja na pia do quarto, senti outro PLOC! E uma aguinha escorrendo pelas pernas, falei:

-Tenho certeza que não estou fazendo xixi, olhei pro marido de novo, rimos e falamos quase que juntos:

-A bolsa rompeu… na mesma hora ele tirou foto e mandou para a Paula, falou que eu estava no banho ela disse:

– cor do liquido ok, está bem clarinho só que esquece minha idéia, nada mais entra, só a Ana que sai hahahahaha e agora as contrações podem ter mais ritmo e serem mais doloridas (rimos muito com ela, uma querida)

Avisei a doula também e ela disse:

– passei o plantão para a Débora, mas pode me chamar se precisar de qualquer coisa…  As 21:00 as dores começaram muito fortes e eu fui suportando, até que decidi ir pro chuveiro, fiquei muito tempo lá… deitei de novo, lembrei da noite de quarta para quinta com aquele balão… não tinha jeito, não tinha posição, não queria mais nada além de andar de um lado pro outro. As 23:00 (e tantas) voltei pro chuveiro e tudo começou a ficar uma loucura… chamei o Eduardo e falei para avisar a Débora (a doula back up) que agora vai. Ele mandou mensagem para a Débora e também para a Silvia (parteira de plantão), que disse que já estava no Sepaco, percebeu uma falha nossa ao marcar as contrações no app (hahaha, dormimos em algum momento) pediu para fazer esse controle em 20 minutos que a Dra. Dani já estava indo pro meu quarto. Débora chegou já foi logo assumindo o chuveiro, pegando cadeira, e começou um papo gostoso sobre o momento que de verdade não estava nada gostoso, em seguida Dra. Dani chegou me examinou ali mesmo no banheiro, elas se olharam (percebi que doulas, parteiras e médicas se olham e já se entendem, sem dizer nada, sem desespero, sem deixar a grávida de mais ansiosa) Dani disse apenas:

-vou pedir para descerem você… com toda paz, tranqüilidade que uma médica pode ter na vida.

A Débora me mostrou a imagem de Nossa Senhora Grávida que tinha conseguido para mim, pegou minha oração, chegou a maca e fomos. Ficamos ali no Delivery , cardiotoco ok… Silvia entrou e já disse:

– querida vamos pro chuveiro, levanta dessa maca (pensei: vai nascer… pedindo para eu fazer outras coisas) As contrações começaram a doer muito mais, fiquei ali na bola, debaixo do chuveiro, Débora ali comigo, marido também sempre por perto, e lá vem a Dani com o sonar, e ela e a Débora se olharam de novo… Em seguida a Silvia aparece e já vai dizendo com aquela voz doce:

-querida vamos para outra sala vamos, e fomos.

Caminhando uma distancia de 10 passos com contrações parecia os 1200 que andei no corredor durante a internação. Me pediram para sentar na banqueta, apoiar no marido, Dani queria fazer o toque com a contração, nessa hora eu implorei para ela não fazer aquilo (na hora da contração acontece uma coisa no corpo da gente que parece que a alma sai e volta, imagina isso com o toque), mas com toda delicadeza do mundo e paciência porque eu gritava, ela fez… a Silvia entrou (estavam revezando pois tinha uma colega do coletivo também parindo na sala ao lado) se olharam de novo. Eu perguntei quanto tinha de dilatação, ela disse que não precisava saber disso agora, vamos pro chuveiro ela disse. Fomos e a Débora preparou a bola e disse para eu sentar, nessa hora eu tive a sensação que a cabeça da Ana estava para fora, não conseguia sentar de maneira alguma, fiquei de joelhos apoiada na bola e não queria mais nada, só ficar ali. De repente a água não descia, o banheiro estava entupido. Sim o banheiro da sala de parto estava com ralo completamente obstruído e eu já estava confortável na medida do possível tive que sair de novo. Eu não tinha condições alguma de mudar de sala de fazer absolutamente nada, chamaram a manutenção, fiquei na banqueta enquanto isso, as contrações acontecendo e o rapaz ali, desentupindo o banheiro e eu gritando.  Banheiro desentupido e limpo, pronto vamos para o chuveiro novamente (eu não tenho noção alguma de horários, nenhuma mesmo) eu só queria ajoelhar e apoiar na bola (meus joelhos doeram por um bom tempo hahaha), as contrações muito, muito fortes, entre algumas eu consegui dar uma relaxada, será que dormi? Soquei a parede, o banquinho que tem nos banheiros de hospital, xinguei a Camila:

– Desgraçada, maldita hora que a vi naquela piscininha na sala da casa dela, maldita hora que perguntei sobre parto, que loucura (e muitos palavrões, ela já sabe que eu a amo de novo)

A Débora e o marido ali o tempo inteiro, falando, dizendo que ia dar certo, que eu ia conseguir, eu só queria uma cesárea, eu implorei para chamarem a Dra. Dani, eu não queria mais, e eles falando com aquela voz suave no meu ouvido. Mandei todo mundo calar a boca, eles calaram, segundos depois não queria aquele silêncio os acusei de me deixarem sozinha, de não me respeitarem, de não chamarem o anestesista, e de ficarem em silêncio kkkkkkk Apareceu a Cibele (outra parteira do coletivo) com o sonar eu pedia para tirarem a mão de mim, logo em seguida a Cibele me olha e me oferece um suco do hospital (eu não curto suco de caixinha) eu lembro que disse:

– Eu não quero esse suco ruim kkkk a Débora me obrigou a tomar o café com leite, disse que eu ia precisar, que precisava me alimentar, tomei. Do nada a Gabi (outra parteira) aparece, a Dra. Pati (outra médica, o plantão trocou e eu nem percebi, tamanho respeito que elas têm com nosso momento) também, eu pedia para ela parar com aquilo, pedia anestesia, pedia cesárea… Ela toda calma, com aquele sotaque delícia de mineira me olha e respondeu muitas vezes:

– vai ficar tudo bem.

Não sei em que momento e nem como fui parar na maca, mas eu fui. Lá pedi a bendita da bola de novo, eu só queria ficar em quatro apoios (além de ter lido que assim é melhor o trabalho de parto). As contrações começaram a ficar diferentes eu sentia uma vontade de fazer força mesmo, o corpo pede é coisa divina mesmo (lembro que quando estava aprendendo a dirigir meu marido dizia para eu trocar de marcha e eu não sabia o momento, ele falava: o carro pede e eu respondia: não estou ouvindo nada, mas sobre o corpo ele pede a força, esse pedido eu ouvi, eu senti, eu gritei…). Eduardo ali, ele sabia muito pouco o que precisava fazer pra me ajudar, estudamos pouco, foi tudo muito rápido ele foi pra atender o que queria, mas ele estava no lugar certo, falando as coisas certas no meu ouvido, me ajudando da maneira certa a cada contração para que eu conseguisse fazer força. Eu estava sentindo queimar, quando a Dra Luana chegou se apresentando (anestesista), todos se olharam e balançaram a cabeça… Ela sumiu kkkkk Eu gritava e silenciava… A Débora leu minha oração de Nossa Senhora do Bom Parto… eu ouvi, eu senti que Nossa Senhora minha mãe estava ali comigo naquela hora, eu entreguei e ofereci a Deus a minha dor, pedi para Ana me ajudar, eu sentia ela descendo, não quis colocar a mão para sentir a cabeça dela estava com medo sei lá, pouco tempo depois alguém disse, pode pegar Ba, ela nasceu… 09:35 do dia 10/02  eu só me lembro de dizer:

– Eu consegui, ela veio para os meus braços na hora

-Nós conseguimos filha, nós conseguimos… Eu PARI.  

Deitamos e dor acabou, é verdade o bebe nasce a dor acaba. Só que não… eu não sabia que para a placenta nascer precisava de contração (não sabia nada de placenta, nem dei importância para ela) comecei a me sentir mal, uma dor, uma queimação, uma coisa estranha e ai falaram calma tem mais uma “contraçãozinha” para nascer a placenta, eu me assustei e disse:

-O que? Outra? Meu Deus não vai agüentar hahahah Nasceu, pronto agora acabou. Muitas vezes e muitas perguntas sobre a placenta, sobre carimbo e eu não sabia absolutamente nada. Eu dizia:

-Não sei nada disso. A Gabi pegou e explicou cada detalhe, da importância, do cordão, onde ficava, onde a Ana estava, o que a nutria… me emocionei, rapidamente conseguiram uma folha, fizeram o carimbo e hoje eu sei o que significa uma placenta, sem nojo, sem julgamentos. Ela é um órgão que morre para nascer a vida olha que lindo.

 

Todos foram se despedindo, os últimos procedimentos com a Ana ainda ali no meu colo, Pati olhou se precisaria de pontos e não precisou, me espantei de novo, pois eu achava que todo mundo ia precisar. Me ensinaram rapidamente sobre o Períneo Integro. Eu me orgulhei em dizer que no meu relato de parto eu escreveria:

 

Indução Natural

Asma

Pré Eclampsia

2 Cesáreas anteriores

Períneo Integro.

A Ana nasceu.

Eu Pari.

É natural.

É divino.

Obrigada Camila.

Obrigada Débora.

Obrigada Coletivo.

O corpo funciona.

Este post tem um comentário

  1. Lindo relato.

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