DPP 24/10/2019
Parto natural humanizado <3
Doula: @belabel1979 – Isabela Geraldi
Iniciei a decoração das lembrancinhas, mas fiquei atenta com o horário, porque ia encontrar minha amiga no shopping aqui perto de casa. O encontro foi uma delícia, matamos a saudade, conversamos sobre cuidados com os filhos, outras amenidades e inclusive, sobre parto. Como o parto dela foi induzido, me disse que gostaria de ter sentido a bolsa romper, queria saber qual era a sensação… pois bem, quando nos despedimos, ela disse “a próxima vez que nos vermos você estará com seu filho nos braços” Own! <3
Dormi cedo nesse dia e acabei acordando no meio da madrugada, por volta das 3h30. Fui ao banheiro e olhei meu celular, a Ana Cris havia me respondido que precisaria trocar a data da minha consulta para terça, mas o papai trabalharia de casa nesse dia e queria aproveitar a carona, então mandei perguntando se poderia me encaixar na quarta e dormi novamente.
Sonhei que estava explicando pra uma pessoa, bastante incrédula e irônica, sobre o funcionamento do Coletivo Nascer, tentava convencê-la de que o formato de atendimento era excelente e incomparável. Em meio ao sonho, às 7h30 da manhã, minha bolsa rompeu.
Minha bolsa rompeu às 7h30, acordei com a sensação de estar fazendo xixi na cama, levantei num pulo chamando o papai avisando que a bolsa tinha estourado. Quando chamei pela primeira vez, como estava mais dormindo que acordado, achou que era para ir trabalhar, mas era dia de home Office – E nisso o Tintin organizou tudo bem direitinho! Se ele tivesse ido pro trabalho há essa hora estaria sozinha, mandando mensagem que a bolsa havia estourado, mas que estava tudo bem. Levaria 1h30 pra chegar até o trabalho, ficar preocupado, depois 1h30 pra voltar pra casa… Perrengue total – Chamei outra vez, já falando o que tinha acontecido, aí sim ele deu um pulo da cama.
Saí vazando até o banheiro, percebi que junto saiu também um pouco do tampão.
Que máximo! Chegou o grande dia! Senti um misto de surpresa, alegria, ansiedade, mas me mantive tranquila, porque não estava sentindo nada ainda. Passou um filme de tudo que aconteceu até aquele momento.
O papai do lado de fora me trouxe de volta pra Terra, me perguntando: “E agora? Avisa a Isa?” – Meu filme ainda não tinha chegado na parte da doula rsrs! – Respondi pra avisar, era essa a primeira etapa do processo.
Ele mandou no grupo, que havia criado há algumas semanas, para que a Camila, nossa fotógrafa do parto, também já ficasse em alerta. A Isa perguntou como eu tava, se estava sentindo alguma coisa e se já tinha avisado a Ana Cris. Como não estava sentindo nada, ela disse pra seguir com a vida normalmente, me alimentar e me hidratar bem, fazer coisas que me dessem prazer, só não podia transar porque a bolsa já tinha estourado e pediu para avisá-la sobre o retorno da Ana Cris. Pois bem, todo mundo avisado, segui com meus planos, que era terminar as lembrancinhas.
O papai começou a organizar a mala dele e do Valentin, que não estavam prontas, passou as roupinhas que fui separando, enquanto isso já pensava no que precisava finalizar no trabalho.
Lembrei que minha mãe ficaria sabendo a data da cirurgia de catarata naquele dia, então preferi avisá-la assim poderia postergar. Mas minha mãe é a pessoa mais ansiosa do mundo, quando liguei e avisei, ela já perguntou se já estava indo pro hospital, expliquei que não precisava se preocupar que estava tudo sob controle e que já estava recebendo acompanhamento. Foi a mesma coisa que nada. Ela saiu avisando a família inteira, consequentemente, ficando mais ansiosa e me mandou mensagem novamente falando que eu tinha que ir pro hospital. Falei que não deveria ter avisado, porque não precisava de toda aquela preocupação, falei que tudo ia ficar bem e que ia terminar de passar as roupinhas. Meia hora depois ela me pediu o endereço do hospital e pra avisar quando tivesse indo pra lá – Só agora parei pra entender todo o desespero dela, toda mulher que não possui as informações corretas da fisiologia do parto e fica a mercê do médico/hospital ou acredita na cena clássica de novela, que quando a bolsa estoura sai correndo pro hospital, estaria desesperada como ela. Aqui dá pra ver sinais do empoderamento feminino, eu tinha total controle da situação.
Enquanto tomava café, fiquei pensando nas fotos do trabalho de parto e já fui me preparar. Arruma o cabelo pro lado, passa creme, prende, solta, amarra, cacheia, até que cheguei no penteado que queria – E tudo isso pra nada, porque fiquei no chuveiro e desmanchou tudo e na real, na hora H liguei um foda-se grandão e só pensava em trazer meu filho pro mundo, não tem vaidade maior que essa.
Pois bem, segui fazendo as lembrancinhas e o papai trabalhando. Já tava sentindo que não ia dar tempo de terminar. Passado um tempo começou a me dar um sooono e fui deitar. Na cama, comecei a sentir leves cólicas, que se intensificaram conforme o passar do tempo. Fiquei lá até o papai terminar o budget e me perguntar se eu tava bem. Levantei e voltei pras lembrancinhas, mas as cólicas começaram a incomodar mais, avisei que não ia conseguir terminar, então ele disse que cortaria. Ainda seria preciso colar um por um. Sem chance de terminar isso, mas ele continuou até onde conseguiu kkk!
Por volta de 12h, pedimos comida pelo app. Às 12h20, minha mãe me mandou mensagem falando que estava indo pro hospital. Ia chegar lá sem a paciente, imaginem! Como estava sentindo dor, pedi pro papai falar com ela, só assim pra sossegar um pouco.
A comida chegou, almocei em meio a dores, as cólicas estavam mais doídas e com intervalos cada vez menores. O papai sugeriu para que eu fosse pro chuveiro, mas não fui. Como estava vocalizando com as dores, isso começou a deixar ele preocupado e mandou mensagem pra Isa novamente. A sugestão foi para que contássemos essas minhas “cólicas” pelo app e compartilhasse com ela em tempo real, como ainda estava bem irregular deveria ir pro chuveiro. Dessa vez eu fui, mas as dores não estavam querendo diminuir não. E a contagem continuou e os intervalos diminuíam cada vez mais. Sendo assim, a Isa avisou que ia ligar pra obstetriz do Coletivo. Logo em seguida, a obstetriz ligou, era a Mika @mimika_kano. Me perguntou várias coisas, pediu as contagens que havíamos feito, depois quis falar comigo, mas não consegui, e nisso ela ouviu um dos meus gritos e perguntou em quanto tempo chegaríamos no hospital. Como estava chovendo, o papai chutou alto para 1h15, então pelos cálculos deveríamos sair de casa naquele instante e nos encontraríamos no hospital. Colocando o destino no waze, viu que o percurso seria bem menor do que havia falado. Avisou as meninas e começou aí uma correria.
O nervosismo que estava escondidinho enquanto ele tava cortando as lembrancinhas, se soltou da corrente. Começou a falar sozinho, pegou as malas, deixou algumas coisas caírem, tropeçou, esqueceu o enfeite da porta da maternidade e o redutor do bebê conforto que estavam do lado das malas… Pedi calma, mas foi em vão… rsrs!
Ainda era preciso ajudar a me vestir e a dificuldade pra encontrar minhas roupas foi regada por muitas reclamações e estava tudo bem na frente dele, mas já não enxergava mais nada.
Tudo pronto! Então ele saiu com as malas, quase desceu as escadas sem mim, quando se ligou voltou pra me ajudar. E cada degrau durou uma eternidade, a cada três uma dor. Parava, gemia, depois continuava. A escada nunca foi tão interminável.
Nunca dirigiu tão rápido. Saímos de casa às 15h e chegamos no Sepaco às 15h25.
Fui recebida com uma pra dentro de cadeira de rodas, o segurança nos levou pro subsolo e informou o local para fazer a ficha, mas perdemos o sinal do celular e como avisaríamos as meninas onde estávamos? Como ele me deixaria sozinha e iria fazer a ficha? Nesse instante, a Mika apareceu, se apresentou e ficou comigo enquanto ele foi fazer a ficha. A Isa chegou perguntando pra Mika onde nós estávamos, estava tão focada que nem me viu ali kkk!
Elas me levaram pra uma sala de atendimento, onde tinha um médico do hospital querendo fazer o exame de toque, porém uma das minhas exigências no plano de parto era evitar toques desnecessários, isso diminui a chance de uma infecção. A Mika avisou ele que minha obstetra já estava fazendo o crachá e ela faria o exame, nisso ele soltou “mas e se nascer?” querendo fazer um terrorzinho, ninguém deu atenção, aí começou a conversar comigo, perguntou meu nome, do meu filho, disse que a mulher dele também estava grávida e que nasceria no inicio do ano que vem, eu mal conseguia olhar e responder ele direito por causa das dores, tanto que não lembro da fisionomia dele.
Minha obstetra chegou e se apresentou, era a Dra. Mayara @go_mayara_abdul, um encanto de médica. Me explicou que faria o exame de toque para saber como tava minha dilatação – Que sensação horrível, exame de toque incomoda e dói muito, bem mais que as “cólicas” que estava sentindo – Quando ela terminou, perguntou se queria saber e só balancei a cabeça que não, meu medo era estar só com 1 dedo de dilatação, ficaria frustrada, ansiosa e acabaria me desconcentrando.
Mas elas estavam se falando entre elas, nessa hora o papai voltou e foi avisado, aos sussurros, que já estava com 7 dedos de dilatação – o máximo é 10… Uau! – Quando desci da maca, percebi uma mancha de sangue, o que me assustou um pouco e perguntei sobre, mas elas me disseram que era normal sangrar um pouco mesmo. Saí de lá e seguimos para o centro obstétrico.
Só lembro da minha primeira impressão sobre a sala, era pequena demais. Mas nem encanei com isso, logo baixaram as luzes e eu já voltei a atenção novamente pra mim. O papai foi trocar de roupa pra me acompanhar na sala e demorou pra voltar, pois precisou guardar a mochila no armário também, enquanto isso, minhas cólicas estavam muito fortes, senti muito frio e a Isa me cobriu com o reboso dela, me perguntou se estava com frio ou estava com medo, mas era frio mesmo. Me colocaram na banqueta, mas achei desconfortável demais e preferi ficar em pé, apoiada na maca e as dores estavam mais valentes, comecei a me descontrolar, a Isa que me puxou de volta pro eixo, respirava alto junto comigo “Flá, presta atenção em mim, puxa o ar pelo nariz e solta pela boca, assim…” no intervalo da dor, jogava meu corpo na maca, balançava o quadril de um lado pro outro pra amenizar, a Isa fez massagem no cóccix – aí sim deu um alívio – pedi água, minha boca tava ficando seca e a mão da Isa tava ali, sempre estendida pra me ajudar.
A Dra. Mayara me pediu pra voltar pra maca, pra gente fazer o cardiotoco. Deitei de lado e ela colocou o aparelho em volta da minha barriga – sentir as dores deitada era mais desconfortável, mas era necessário, então aguentei um pouquinho – Passado um tempo, veio uma dor diferente, tinha uma vontade de fazer força junto e senti um liquido sair, era o sinal de que entrei na fase do expulsivo. Rapidamente, elas perceberam e já me recomendaram ir pro chuveiro.
No chuveiro foi onde fiquei mais tempo e se tivesse que dizer qual a parte mais difícil do trabalho de parto, falaria que é essa fase…
A Isa me orientou para quando sentisse vontade de fazer força pra segurar na barra de ferro que tinha na parede e quando a dor passasse pra jogar o corpo sobre a bola e relaxar pra recuperar as forças.
A Camila só conseguiu entrar nessa hora, o Sepaco dificultou a entrada dela – Certeza que se tivesse contratado o fotógrafo do hospital, estaria grudado em mim desde a recepção. Enquanto isso, a Isa tirou algumas fotos minhas do celular do papai. Quando a Camila chegou, encostou em mim com todo cuidado do mundo, falou baixinho que estava lá e só balancei a cabeça. No período expulsivo quase não abri os olhos, é uma fase de muita interiorização e precisava sentir o que meu corpo falava.
Em algum momento ouvi a Isa pedir pro papai colocar minha playlist pra tocar.
Montei uma playlist enorme pra esse momento, incluí no meu plano de parto, achei até que conseguiria dançar Anitta, vi vários vídeos de grávidas dançando com as enfermeiras/médicos, pois ajuda na dilatação, mas nada sai como o planejado, não é minha gente? Hahaha! Acredito que depois de ouvir umas 5 músicas, pedi pra desligar, já não era mais música, se tornou barulho nos meus ouvidos, o som tava alto e tava me incomodando, não ornava com meu ritmo interno e estava me desconcentrando.
De tempo em tempo, a Mika vinha com o sonar fazer a ausculta do coração do Tintin pra saber se estava tudo bem. Bebê estando bem, o parto segue normal. Depois de muita força feita, cheguei em um momento que senti que por mais que fizesse força o parto não ia evoluir, sentia que estava retraindo, não estava mais a vontade ali, comecei a imaginar que não seria confortável ter meu filho debaixo do chuveiro, imaginei várias cenas, o barulho do chuveiro incomodava, a força da água já não me relaxava… Era o momento de sair dali!
Falei que queria sair e prontamente a Isa ajudou a me enxugar e lembro bem desse momento, pois abri os olhos e ela me disse: “Você tá indo muito bem!”.
Os olhos fixos nos meus me dando uma força imensurável – A revolução é feminina, saibam disso! – As palavras dela tinham tanta verdade, era exatamente o que precisava ouvir, queria ter respondido algo, mas só consegui sorrir e despontava ali um orgulho de mim mesma.
Voltando pro quarto, a Isa me orientou para continuar seguindo os mesmos passos que estava fazendo no chuveiro, só não teria mais a bola e faria força na barra que tinha na maca. Lembro que fiz algumas forças, comecei a sentir muito calor e tirei o avental que estava vestindo. Nesse momento a Mika foi verificar se a cabeça do Tintin já estava aparecendo e siiiim… já estava!
Nisso elas me conduziram pra banqueta. Perguntaram pro papai se ele ia pegar o Tintin, ele disse que ficou receoso, mas pensou que essa poderia ser uma oportunidade única na vida e aceitou. Então, ficou sentado no chão na minha frente, junto com a Dra. Mayara e a Mika, e a Isa ficou de apoio atrás de mim. Foi meu momento mór de protagonista da história, todos os olhos voltados para mim no centro daquela sala, sob meia luz, sendo portal de uma vida…
Papai contou que a Dra. Mayara falou pra ele que já dava pra ver a cabecinha do Tintin e mostrou, mas o nervosismo era tanto que ele não viu. Ela disse que precisava se abaixar mais pra poder ver, aí sim ele achou o filho kkk! Depois disso, fiz mais força e a partir daí o Tintin aparecia mais e mais… A Dra. Mayara me perguntou se eu queria sentir a cabeça dele, mas não consegui, mais um dos meus itens colocado no plano de parto que não saíram conforme planejado… sentia que iria desviar toda minha atenção, perderia todo meu foco e ele não ia nascer, sentia que tava muito perto de acontecer, aqui estava no clímax, o pico da sensação.
Fiz mais uma força, gritei e senti o início do círculo de fogo… reclamei da dor pela primeira vez “Tá doendo muuuito!” e a Isa com toda sua sabedoria jogou as últimas palavrinhas mágicas que estava precisando “Eu sei que tá doendo, é o Valentin chegando… Não é isso que você quer? Na próxima contração faz toda força que conseguir!”… e fiz toda força do mundo, uma força longa de olhos fechados, soltando um grito gutural, selvagem…
Foi a melhor, mais profunda e intensa sensação da minha vida… Renasci! Senti a cabeça sair (Ufa! O pior já passou), logo na sequência o corpo saiu com facilidade e rapidez. O papai tava a postos, na expectativa, esperando o momento certo pra receber nosso pequeno e teve banho de liquido amniótico, bebê escorregando no braço e ainda bem que a Dra. Mayara estava lá pra ajudar.
E finalmente ouvi o chorinho, o papai levantou ele e me entregou nos braços. Lembro do cheiro maravilhoso e da temperatura quentinha do corpo dele no meu… todos choravam nesse momento e eu aos prantos falava “meu filho! meu filho! oi… tá tudo bem, a mamãe tá aqui” e ele parou de chorar. Me olhava tão profundamente como se quisesse me agradecer por tê-lo trazido ao mundo. Nesse momento, o mundo todo deixou de existir, estava pairando num universo paralelo onde só eu e o Tintin existiam. Foi transcendental, não existe palavras que possam descrever tamanha emoção, só sendo mãe pra saber do que estou falando e olhe lá, porque é único, singular e muito particular de cada uma. Pensei que sabia o que era amor de mãe quando estava gestando, que nada! O amor transbordou ali…