Parto Humanizado Hospitalar
Relato da Priscila Tiltscher Callegaro

Relato da Priscila Tiltscher Callegaro

Eu sentia que um só não era suficiente pra minha vocação materna. E foram dez anos esperando por você. Foram 10 anos de espera por um companheiro que fosse digno de ser teu pai, foram 10 anos de espera para que teu irmão pudesse dizer com os olhos cheios de lágrima “finalmente”, com a notícia da tua ainda frágil existência. 

Eu planejava pra você, meu amor, que chegasse no dia e hora escolhidos por você. Eu planejava poder te amamentar. Mas todos os médicos foram categóricos: “Você não pode ter um parto normal porque já teve uma cesárea anterior. Corre o risco de ter uma ruptura uterina” 

“Você também não poderá amamentar. As chances são praticamente nulas após uma mamoplastia”

Com 36 anos e 35 semanas de gestação decidimos não aceitar os “nãos” antes de tentar. 

Conhecemos o Coletivo Nascer por indicação de 3 pessoas diferentes. Foram essas mulheres que me deram a segurança de que ali era o nosso lugar. 

Com 38 e 5/7 semanas, as 23h de um domingo, começaram as contrações. Espaçadas, sem ritmo. Ainda sem saber, esperei.

Às 3h as contrações vinham de 10 em 10 minutos. Sentei na sala, liguei a TV… comecei a controlar o tempo entre uma contração e outra que vinham em intervalos de 4 e 6 minutos. Deixei que meu marido dormisse, até que tivesse certeza de um trabalho de parto efetivo. 

Às 6h liguei pra Camila, minha doula, que deu as coordenadas: “Tome um bom café da manhã, leve a bola de pilates pro chuveiro e deixe bastante água cair na lombar, por uns 40 minutos. Despeça-se da barriga, abra o coração pra viver a jornada transformadora do parto.”

Eu estava sem dormir e sem comer. 

 Por volta das 10h minha doula esteve em casa. Massagem, conversa… carinho. Camila foi embora já prevendo o retorno “estarei aqui por volta das 18h. Coma alguma coisa, tente dormir um pouco.”

Almocei e sentada no sofá, tentei dormir. Assim que fechei os olhos, uma contração mais forte e a bolsa rompeu, às 14:30 

Por todo esse tempo, Bru (meu marido) esteve comigo. Me dando apoio, carinho e espaço quando precisei. Mantendo a  doula informada de tudo quando eu já não conseguia mais raciocinar de forma lógica.

As 17:30 Camila chegou em casa e me encontrou sentada no tapete da sala, já sem muita consciência, tomada pela dor das contrações ritmadas. 

Era hora de seguir para a maternidade

Só me lembro de respirar fundo e observar a padronagem do tecido que recobre o teto do carro. 

Chegamos ao hospital por volta de 18:30. Exame de toque. Ouvi uma voz distante…sete.

Cheguei à maternidade já com 7cm de dilatação. 

Já na sala de parto, uma luz baixa e suave, lembro da Dr Olivia enchendo a banheira. Camila foi preparando o ambiente com aromaterapia, Bia espalhando um cordão de pequenas bolas iluminadas. Meu marido me dando a mão, Jéssica agachada ao meu lado, Dr Olivia sentada à minha frente. Mais contrações. 

Eu pedi por analgesia. Muitas vezes. 

Eu duvidei da minha potencia, da minha força.

Dr Olivia olhou sorrindo pra mim e disse pra tocar com dedo, pra sentir.

E eu que achava que estava tão distante de conseguir, pude sentir com a ponta dos dedos a cabeça do meu bebê. Mais uma vez Dr Olivia sorriu “Já está quase”

Eu chorei.

Foram apenas 2 horas. 

Pari sentada, dando as mãos pra minha doula, sendo incansavelmente incentivada e impulsionada pela Jessica. 

Bento foi amparado pelas mãos de seu pai, ao lado da melhor obstetra que poderíamos ter e que sabe que o parto é da mulher e não do médico. As 20:40 Bento nasceu. 

Bento nasceu de um parto natural, sem analgesia, períneo íntegro.

Assim que nasceu foi recebido pelas mãos do pai e depois veio para os meus braços. Fui caminhando até a cama com ele no colo, ainda preso pelo cordão. Já não lembrava mais da dor. 

Assim que o cordão parou de pulsar e foi cortado pelo pai, Bento veio para o peito. 

Três dias depois, meu leite desceu. E em tanta quantidade que tive hiperlactação.  

Me disseram que eu não podia parir de parto normal. Me disseram que eu não podia mais amamentar. 

Me disseram que eu não era capaz e mesmo durante o parto eu mesma duvidei que fosse.

O que eu posso dizer é que ninguém pode dizer o que você é capaz ou não de fazer. Que existe uma força que conecta todas as mulheres que estão ali, quase que como em

um ritual. 

Essas mulheres que o tempo todo sorriem, das mãos que amparam, das 

vozes que acalmam e que acima de tudo respeitam e confiam na sabedoria do corpo feminino. 

Eu agradeço ao meu marido por ser tão “pai” e porto seguro. Eu agradeço por absolutamente toda equipe que esteve comigo neste nascer, pelo respeito da equipe médica, pelo carinho amoroso da minha doula, pelo olhar sensível da minha mais do que fotógrafa.

Eu agradeço por tudo e por tanto!

O coletivo de mulher é FORÇA

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