Parto Humanizado Hospitalar
Relato de Parto da Juliana Soares

Relato de Parto da Juliana Soares

Desde que decidi engravidar, em 2017, comecei a pesquisar sobre PARTO HUMANIZADO e descobri que sabia muito pouco sobre o assunto. E descobri também como o PARTO NORMAL era visto como um vilão para muitas mulheres, que associavam este momento a uma experiência de dor e sofrimento.

Minha jornada começou quando assisti o tão necessário documentário O RENASCIMENTO DO PARTO. Ali entendi muito sobre as violências obstétricas e a influência pesada da construção machista e patriarcal sobre o PARTO.

Em setembro de 2018, quando engravidei, só tinha uma certeza: eu queria “sim, com certeza” um parto humanizado, fosse ele em casa ou no hospital, e queria um parto natural.

O segundo passo foi procurar uma equipe médica com olhar humanizado. E assim chegamos ao Coletivo Nascer da maravilhosa Ana Cris Duarte. Lá fizemos todo o acompanhamento pré-natal e dividimos com outras mães os anseios e dúvidas do parto e da maternidade. Entendi também as reais necessidades de uma cesárea, e que também poderia ser humanizada.

Foi lá também, numa palestra sobre PLANO DE PARTO (outra grande ferramenta da família no momento do parto), que conheci minha doula anja Camila Aguiar, pessoa maravilhosa que foi essencial para que eu tivesse o parto dos sonhos. Além das dicas maravilhosas para o parto e pós-parto, ela me foi uma grande fonte de força e empoderamento e me fez a todo momento acreditar que eu era capaz.

Meu trabalho de parto começou quando completamos 40 semanas. Naquela terça-feira, eu e marido fomos à consulta pré-natal cansados e frustrados. Eu reclamava da barriga dura e da dificuldade em dormir. Estava ansiosa também. Queria ver logo a carinha da minha filha e pegá-la nos braços. Mas como eu não tinha nenhum dos sintomas previstos para um início de trabalho de parto, as previsões não eram animadoras e a gravidez poderia ir até as 42 semanas. Naquele dia, conversei com a doula e decidi fazer uma indução natural. Eu já estava na osteopatia com a maravilhosa Violaine há alguns meses para aliviar as dores nas pernas, quadril e estômago. Naquela quinta-feira, fiz a indução numa sessão de acupuntura. A osteopata me recomendou repouso total e me receitou um shake com néctar de damasco e óleo de rícino para ser tomado na sexta-feira de manhã.

E assim fizemos.

Na sexta-feira, depois de tomar o shake e deitar de novo, acordei por volta das 13h e percebi um pouco de sangue na hora de fazer xixi. Ao contrário do que se imagina, aquele foi o momento mais feliz da minha vida! Eu não tinha tido nenhum sinal ainda, nem mesmo da perda de tampão, então ver aquele sangue na privada foi motivo de pura excitação. Acordei o marido, almoçamos e sentamos pra ver televisão. Lá pelas 15h, senti uma umidade na calcinha. Ao chegar no banheiro, vi aquele líquido com cheiro de água sanitária escorrer. Era a bolsa que estava vazando. Fiquei ainda mais animada. Avisei a doula e fiquei em casa de boa com uma dorzinha bem discreta e gostosinha no topo da barriga. Pedi ao marido para me fazer uma canjica doce. Estava feliz da vida. Por volta das 17h, a doula chegou e fui para o chuveiro. A bolsa estava vazando mais, mas como ainda não tinha contrações ritmadas, Camila foi pra casa e eu fiquei no chuveiro, sentada na bola de pilates relaxando. Por volta das 18h comecei a sentir as contrações de verdade e sem nenhum intervalo entre elas. Ao contrário do que eu imaginava, a dor não era uma cólica, mas uma queimação no quadril que se intensificava e depois sumia, como uma onda. Comecei a andar pela casa enquanto esperava a doula voltar. Comi a canjica, mas nem lembro que gosto tinha, pois estava já numa outra dimensão. Por volta das 21h, Camila voltou. Fazia massagem no quadril para aliviar a dor no pico das contrações. A obstetriz, uma fada chamada Cibele Macedo, chegou em casa por volta das 23h e, ao me examinar, viu que eu já estava com 9 centímetros de dilatação e era hora de ir para o hospital. E lá fomos nós. Marido no volante, Camila no passageiro, Cibele no banco de trás comigo deitada no colo dela enquanto as contrações, sem intervalo, anunciavam um parto rápido.

Chegamos na maternidade perto da meia noite e, depois das chatices da admissão, eu, marido, doula e obstetriz, nos juntamos a querida obstetra Lívia Franzini na sala de parto. Não tive banheira, mas tive chuveiro, bola, cama e banqueta de parto pra ir revezando durante as contrações, sempre incentivada pela equipe, em especial minha doula querida, que quando eu reclamava da dor, sempre tinha palavras positivas de encorajamento e conforto. Lá pelas 2h (não tenho certeza da hora exata), doula e obstetra foram descansar um pouco e a fada Cibele ficou comigo. Subi na cama e, de cócoras durante os picos das contrações, fui administrando a dor. Já estava muito cansada e Cibele me pediu pra colocar a mão e sentir a cabecinha da bebê. Aquilo foi de uma emoção imensa e me renovou a força e coragem pra continuar ali firme. Ao me examinar de novo, Cibele percebeu um inchaço do lado esquerdo do colo do útero que estava impedindo o encaixe da bebê. Fez massagem com óleo de prímula e gelo e a dorzinha chata que tinha daquele lado desapareceu. Lá pelas 4h, a doula e a obstetra voltaram e era hora de agir. Fizemos os exercícios de spinning baby, todo mundo ajudando, inclusive o marido. Camila tirou o relógio da sala para eu não ficar preocupada com o tempo e começou a me incentivar a fazer força quando as contrações viessem. Como elas estavam mais espaçadas, eu, deitada na cama, conseguia dormir e descansar um pouquinho entre elas. E isso foi muito bom. Lá pelas 5h, fui pra banqueta de parto, marido atrás amparando as costas, obstetra no chão monitorando os batimentos da bebê, tudo forrado e preparado pro nascimento. Comecei a fazer força durante as contrações, a bebê estava ótima, mas nada de descer e sair. Camila e Cibele sempre com suas doces palavras de incentivo e encorajamento me ajudando a ficar firme. Beatriz estava chegando. Lembrei de uma vocalização que havia aprendido na aula de dança materna com a linda Pamela Morimoto que consiste em emitir um A bem forte, transformando o corpo numa grande caixa acústica que vibra e permite o bebê se encaixar melhor. Nos intervalos das contrações, eu vocalizava longos As e na contração fazia força. Na primeira força, senti o círculo de fogo. Fui tomada por uma felicidade imensa. Beatriz estava quase chegando. Na segunda força, senti minha filha já no canal vaginal, eu a chamava e ela se mexia. E eu sentia tudo. Que momento divino e mágico, ela estava ali me dando força para continuar. Na terceira força, às 6h22 da manhã de um lindo sábado, Beatriz nasceu. Naquele momento eu senti a força da natureza, meu poder como mulher, como animal, como mãe. Meu marido chorou. Eu já nem lembrava mais da dor ou do cansaço. Como um ser muito racional que sou, achei que isso seria impossível, mas descobri que hormônios são poderosos. Eu era pura alegria e amor. Nunca me senti tão bem e viva em toda a minha vida. Abraçamos nossa filha e lhes demos as boas vindas. Subi na cama sozinha, deitei, colocamos ela no peito e ela mamou como louca. Olhinhos espertos e boca certeira. Foi lindo. Ficamos ali, eu, marido e Bia curtindo nossa hora dourada com muito amor e alegria. Depois, esperamos o nascimento da placenta, que não demorou mais que 20 minutos. Em seguida, Gabriel, meu marido, cortou o cordão. Bia foi examinada pela pediatra Thais Zenero no meu colo. Tudo feito com muito amor e carinho. Levei alguns pontos pela laceração do períneo, mas não senti dor nenhuma. Como tenho aflição da agulha, reclamei um pouco, mas logo passou. Não mudaria nada do que aconteceu.

Fiz questão de citar o nome de todas as mulheres maravilhosas que me ajudaram nessa jornada porque essa é a prova de que nós mulheres somos fortes, donas de nossos corpos e mentes e capazes de feitos excepcionais como parir de forma natural e saudável. E espero que esse seja só o primeiro de muitos bons exemplos que darei a essa menina maravilhosa que coloquei no mundo. Beatriz, você me ensinou a ser uma pessoa melhor. Te amo.

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