Parto Humanizado Hospitalar
Relato de Parto Thayani Cruz Nannini

Relato de Parto Thayani Cruz Nannini

Pensei mil vezes em como começar a contar as duas semanas mais loucas e longas da minha vida. Difícil demais, mas vou tentar resumir, porque preciso falar sobre a chegada de mais uma benção na vida, mais um grande e incondicional amor… Meu filho. Foi muito planejado, muito desejado, e muito demorado… Mas o teste positivo chegou! Eu tinha certeza que era menino. Acertei. Essa foi minha segunda gestação. Minha primeira filha nasceu através de uma cesárea eletiva, por opção minha, por pura falta de informação.

Decidi fazer o pré natal com o mesmo obstetra, que é de confiança e cuidou de mim muito bem. Porém, ele não estava mais fazendo parto, então comecei minha busca por alguém que me passasse confiança, mas não conseguiu nenhum obstetra que estivesse disponível na data prevista para o parto (DPP 03.01.19) e nem que me passasse confiança. Resumindo, preferi continuar o pré-natal com o Dr Wagner, que se propôs a me acompanhar por todos esses meses, com carinho e dedicação.

O parto seria feito com plantonista do hospital mesmo. Mas, comecei a pesquisar, estudar, me informar, assisti os documentários ‘O renascimento do parto’, e achei melhor optar por um parto natural, mesmo com cesarea prévia. E fazer isso sem apoio de ninguém e com médico plantonista é quase uma certeza do fracasso. Decidi isso com quase 36 semanas. Fui falar com o meu marido, Rodrigo, e expliquei tudo que eu li, vi e aprendi. E a resposta dele: ‘Tha, é isso mesmo que você quer? Então estamos juntos. Vamos fazer isso juntos. Vamos contrar a doula e a equipe que precisar.’ E foi ele que fez a pesquisa para acharmos uma doula que atendesse no hospital da nossa escolha. E essa doula me indicou um lugar incrível, com uma equipe mais incrível ainda, que me passou confiança mesmo aos 45 do segundo tempo da gestação. Primeira consulta no Coletivo Nascer e já me apaixonei. É incrível o poder de acolhimento delas, e a sensação de segurança que nos é passada. Em paralelo fui em busca de uma doula que morasse perto de casa. Não vou dizer que foi sorte… Não foi… Foi uma benção achar Luciana Ribeiro. Tivemos nossas conversas por WhatsApp e fizemos uma chamada de vídeo, e pronto… Tive certeza que seria ela. Mesmo com tempo curto até a DPP, me preparei e me informei o máximo que pude com essa equipe que escolhemos.

O Ro então… Repetindo sua atitude da gestação da Ju, estava sempre um passo a frente nas informações. Sabia tudo e não cansava de pesquisar. Ou seja, além da equipe super bem preparada, tinha meu marido mais que preparado. Dia 22 de dezembro… Virada de lua. Lua cheia. Acordei de manhã e surpresa: saiu o tampão. Bateu um frio na barriga. Será que é hoje? Não, não foi. Continuam as contrações de treinamento que tive boa parte da gestação. Começam a vir mais fortes. Dia 24 de dezembro. Noite de Natal. As contrações ficam fortes, a cada 15 minutos.

Passei a noite toda sentindo dor, sentada na bola pra ver se aliviava. Será que vai nascer bem no dia de Natal? Não, não vai. Passei a noite com as contrações, que depois do banho quente deram uma espaçada. Na noite seguinte, mesma coisa, porém contrações com intervalos de 10 minutos. E assim foi, todos os dias seguintes, até que na madrugada de 29 de dezembro, as contrações estavam bem próximas, com intervalos de 3 minutos, 5 minutos, 4 minutos… Já não dava pra dormir, porque a dor estava muito mais forte. Eu já estava irritada por passar todas aquelas noites em claro ou mal dormidas, e nada acontecer. Achei que era mais uma noite e um dia daqueles. Mas como todas as outras noites, o Ro não dormiu também, me fazendo companhia, massagem e contando as contrações. De manhã os intervalos variavam entre 1 e 3 minutos. Mas eu ainda estava suportando a dor, então continuei achando que não era a hora. Mesmo assim o Rodrigo preferiu tomar a frente da situação e ligar para a Luciana pedindo que ela viesse pra casa. O Ro dizia ‘ Você se acha tão fraca pra dor, que na verdade você deve ser forte e está subestimando a dor que está sentindo’. Resumindo, a Lu chegou e disse que era a hora de ir para a maternidade. Chegamos lá 09:09h, e na triagem a médica de plantão contatou 3cm de dilatação e colo médio/fino. Em seguida, a equipe que já tinha sido acionada pela Lu chegou.

Subimos para a sala de pré parto e teríamos que esperar até 6cm para poder ir ao delivery room, mas a obstetriz Juliana perguntou se podia me examinar porque haviam grandes chances da médica do plantão ter errado. E ela errou. Eu estava com 7cm. Fomos para o delivery room e lá passei a tarde mais louca da minha vida. O trabalho de parto foi avançando, mas nada do meu filho nascer. Ele não estava completamente encaixado na posição correta. Foram 2h só fazendo spinning babies para ele encaixar. E funcionou. Mas aí o colo estava segurando a cabeça dele, então a Dra Luisa Jacques ajudou a tirar enquanto eu fazia força nas contratações. Horas se passaram e ele descia milimetricamente, para meu desespero. Não pensei nem pedi em momento nenhum analgesia, mas pensei que não conseguiria, quis desistir… Ninguém deixou. Fui encorajada a cada segundo. Mas minhas forças estavam acabando… Eu tremia toda. Só de explulsivo foram cerca de 6h. Não dava mais pra mim. Meu sonhado parto natural já era, e eu tinha que focar em fazer meu filho nascer logo e saudável. Eu implorei para me ajudarem a ‘tirar o menino de mim’. E depois de analisar a situação e de me esclarecer tudo, a Dra Luisa e a Ju me indicaram o vácuo. Eu fiquei apavorada, mas ele não ia sair, eu não conseguia mais fazer a força necessária para ele sair. Estava perto mas estava longe. Só perguntei se ia machucar ele ou prejudicá-lo de alguma maneira, e aceitei a ajuda. Aceitei triste, mas feliz, porque estava perto do fim. Perto do começo. E assim foi. As 22:59h do dia 29 de dezembro de 2018 nasceu meu moleque lindo. Não foi parto natural, mas foi normal. Valeu cada segundo dessa experiência maluca. A alegria, a emoção e o amor tomaram o lugar da frustração de não ter sido 100% eficiente. Deu tudo certo. Rodrigo nasceu com 51,5cm e 3,570kg, e veio direto para meus braços. Não quis mamar logo de cara, mas ficamos agarrados o tempo todo. Papai quis cortar o cordão, e o fez depois de um tempo do nascimento, e só depois que parou de pulsar.

Para mim, o mais incrível de tudo isso, foi que graças ao Coletivo Nascer, pude passar pela melhor experiência da minha vida. E o trabalho deles não pára quando o parto termina. Ainda tem todo um suporte feito nas consultas e rodas pós parto, fora a rede de apoio que é formada no whatsapp com todas as mães que pariram no mesmo mês. Muita gratidão à equipe maravilhosa que esteve comigo no pré – Natal, parto e pós parto: Coletivo Nascer (em especial à Luisa Jacques e a Juliana Freitas, e minha querida doula Luciana Ribeiro – doula). Agradeço também à todos que se preocuparam conosco. Sou muito grata por ser rodeada de pessoas tão incríveis e não tenho palavras para agradecer tudo isso. Mas meu agradecimento especial vai para meu parceiro, meu melhor amigo, meu marido, meu amor, Rodrigo Gomes, que nunca me deixou só um segundo sequer. Que viveu intensamente comigo essa experiência, e que me apoiou e me apoia todos os dias. Que me ajuda e divide comigo todas as tarefas e cuidados dos nossos filhos, e que não cansa de me surpreender.

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