Parto Humanizado Hospitalar
Relato de Parto Debora Tangerine

Relato de Parto Debora Tangerine

Assim que descobri que o planejado junto ao meu marido havia dado certo, eu, grávida de algumas poucas semanas, me vi sem uma obstetra para acompanhar a nova jornada. Então, me lembrei de uma querida amiga de muitos anos que é (e sempre quis ser) obstetriz, a Carol P.. Sem perder tempo, entrei em contato com ela e contei da novidade e pedi indicações de médicas. Lembro dela ter me passado 3 indicações e, uma delas, era a Drª Olivia Olea que estava em um projeto de parto humanizado. Achei interessante o que ela havia comentado sobre parto humanizado, eu nunca tinha me aprofundado sobre o assunto e resolvi entrar em contato com a Drª Olivia. Muito receptiva, ela me explicou em uma consulta particular, como era o atendimento do parto humanizado pelo Coletivo Nascer. Em descrição ao site do mesmo segue o que eles nos proporcionam:

“O Coletivo Nascer é um grupo de médicas obstetras e obstetrizes que tem por objetivo atender partos hospitalares humanizados em São Paulo, SP com custos que possam ser absorvidos por parte maior das usuárias de plano de saúde, em regime de plantão de disponibilidade.”

Eu de 8 semanas de gravidez, após conversar umas 2h com a Drª Olivia, prontamente entrei em contato com o Coletivo e participei de uma reunião online onde a fabulosa Ana Cris (Coordenadora de tudo) nos explicava sobre o funcionamento do Coletivo Nascer. Eu achei fantástico, totalmente inovador num mundo onde cesarianas são impostas há praticamente todas as mulheres grávidas entre outras intervenções desnecessárias. Nas consultas de pré natal, rolava uma reunião de gestantes que paririam na mesma época. Nestas reuniões era falado sobre o que você poderia sentir de diferente naquela idade gestacional, dicas de alimentação, exames, desmistificação sobre o parto natural e sem analgesia e, o mais legal, a troca de experiência de cada gestante que participava das reuniões ou melhor, consulta coletiva. Intercalado ao bate papo com as obstetrizes, eram chamadas individualmente as gestantes para consulta, nela media-se a barriga, ouvia-se o coração do bebê entre outros assuntos particulares que, caso a gestante preferisse, poderia ser compartilhado apenas com a obstetra e obstetriz.  Detalhe, o marido participou de todas as consultas. A cada mês que se passava, íamos nos inteirando cada vez mais sobre o assunto gravidez e parto normal humanizado. Nosso grupo chegou a 36 mulheres para parir até abril/2019. E a grande lição para vida é que percebemos o quanto somos vítimas do sistema que existe nos hospitais e nem nos damos conta. O Coletivo, além de toda essa informação, nos forneceu uma maravilhosa equipe que funciona por plantões de equipes, onde eles também podem ter vida social e realizar um parto sem pressa.

Ok, passadas 39 semanas e 2 dias, sexta-feira 29 de março de 2019, fim de tarde, começo a sentir algumas contrações diferentes das quais eu estava acostumada a sentir. Primeiro irradiava uma espécie de cólica nas costas (rs) que logo depois de umas 2h passou para a parte da barriga. Ok, nessa altura do campeonato, já estávamos esperando mesmo sinais já que a data prevista do Matteo era 03/04. Sem desespero ou pânico, apenas um sentimento de medo e alegria, mandei uma mensagem para o meu marido, que estava no trabalho, dizendo que contrações diferentes rolavam naquele momento e, talvez, se iniciava a fase de pródromos, aquela fase em que as contrações são tranquilamente suportáveis, sem ritmo fixo e espaçadas. Tudo isso, era lição desde o começo das consultas coletivas, sem novidade. Meu marido trouxe pra mim buscopan composto para ajudar na fase mais dolorida. Eu estava na casa dos meus pais, esperando ele voltar do trabalho. Quando ele chegou, já eram quase 22h e as contrações pegaram mais força e já estavam bem desconfortáveis, porém, ainda desritmadas. Maravilha, enquanto tudo acontecia, também estávamos informando a nossa querida Doula, Mariana Mesquita (que em breve será Obstetriz). Então, você aí lendo tudo isso e pensando “gente, mas ela não deveria sair correndo pro hospital?!” – No parto normal hospitalar, quanto mais tempo você permanecer em casa, mesmo tendo contrações, melhor, pois você dará o tempo necessário ao seu corpo para ele se abrir tranquilamente até a hora da fase ativa chegar. Passamos a madrugada tendo contrações de 10 em 10min … 20 em 20min… 5 em 5min… e bem doídas… hora de tomar buscopan e ir pro chuveiro… e dale chuveiro… 8h da manhã de sábado, já exausta de tanto sentir contração, meu marido querido, preparou uma vitamina e uns queijos para ver se eu conseguia comer algo. Nada feito, comi pouquíssimo e ele também sabendo tudo o que estava acontecendo mas ao mesmo tempo preocupado, afinal, moramos no 23º andar :o).

Pedi para ele dizer a Doula que as dores já estavam insuportáveis mesmo que desritmadas… estavam mais perto uma da outra. 5 em 5 min. Resolvemos então contactar a Ana Cris para avisar nossa possível ida ao hospital. Saímos de casa as 12h do sábado em meio a uma contração e outra. Consegui chegar ao estacionamento e até consegui reparar nas faces de alguns espectadores, rs. Pensei “Tudo ok pessoal, são apenas contrações, talvez da fase ativa”.

Equipe de plantão Coletivo, nada mais nada menos do que a obstetra que me apresentou o coletivo: Drª Olivia!

Chegando ao hospital após longos 30 minutos de carro (sem trânsito) e muita contração, a Drª Olivia já nos aguardava na recepção para acompanhar nossa chegada e garantir nenhuma intervenção rotineira de hospitais loucos por cesárias ou colírio de nitrato de prata para recém nascidos. Uau!! descobrimos que chegamos já com 7cm de dilatação, pensei eu “que maravilha, agora vai ser rapidinho para o expulsivo”. Ledo engano. Cada corpo o seu tempo. Seguimos para a sala delivery de parto. Silêncio, luz baixa, liberdade de posições, privacidade as vezes, liberdade de alimentação, música de sua escolha, tudo no meu tempo e do Matteo. Fizemos alguns exercícios para melhor posicionar o bebê para o nascimento. Entre as contrações tentávamos uma forcinha ali e outra aqui e nada. Lembro-me da Gabriele, obstetriz, me acompanhando do chuveiro à banqueta e da banqueta ao chuveiro com seu aparelho sonar. 17h e bolsa estoura parcialmente, uma pequena evolução, mas não o que esperávamos. Então a equipe conversa entre si e me propõe estourar a bolsa por completa. Eu, confiante, aceitei. Eis que a obstetriz estoura a bolsa… “chuááá” quanto líquido ainda havia lá dentro… me senti mais leve na hora!! Porém, as amáveis contrações aumentaram de intensidade C-O-N-S-I-D-E-R-A-V-E-L-M-E-N-T-E!!! Eu já estava implorando por analgesia (lembrando que a analgesia do Coletivo não interrompe o processo todo, apenas ameniza a dor, mas é colocada como opção em último caso, pois, a partir daí é preciso um monitoramento do bebê bem mais intenso). Mas ainda é cedo, vamos tentar mais um pouco, quem sabe o Matteo nasça sem que seja necessário analgesia. Ok, topei. Porém, eu não conseguia sair do chuveiro tamanha a dor. Naquela altura do campeonato, o Thiago, meu marido, ali o tempo inteiro ao meu lado, me segurando, me levantando, me falando que eu era muito forte por estar ali… e eu implorando uma analgesia porque eu achava que ia morrer de tanta dor que vinha sem parar… sem parar… não adiantava água, não adiantava massagem, não adiantava nada mais… eu já estava exausta e até me conformando com uma possível cesária. A doula, Mari Mesquita, desde o momento em que ela chegou não desgrudava de mim, muito presente, tratou de mim com a segurança de quem sabia o que estava fazendo. Conversamos nos momentos que eram possíveis e ela me relatava momentos do parto dela que durou meras 25h (isso mesmo – assista aqui: Nascimento da Lola – Mari Mesquita 2015). Bom, 21h… hora da analgesia, a equipe concordou que eu precisava de um tempo para repor as energias. Rafael (anjo sem asas rs) anestesista parceiro do Coletivo chegou e, naquele instante, todos os meus medos de agulhas sumiram… kkkkkk eu só queria aquela agulha com analgesia logo!!! Pronto, tudo feito e aplicado, eu desmaiei e o Thiago também, dormimos muitooo durante 1h rs! (Até porque estávamos acordados desde sexta a noite). A analgesia apenas reduziu a dor das contrações que deu para relaxar o corpo e a mente, mas dali 1h30 voltei a sentir uma dor, não a dor de antes, mas voltei a sentir e fiquei com medo daquela super dor voltar e pensei, “É agora ou nunca!”. Voltamos aos exercícios agacha, levanta, contração… e agora a indicação era fazer força durante a contração. E eu, obstinada para o Matteo nascer logo, seguia a risca o que elas pediam ignorando um pouco a dor. Houve troca da equipe, entrou a Drª Maiara (uma fofa) e a obstetriz Mika (outra fofa… na verdade a equipe inteira é fofa… ^_^). A equipe então percebeu que o Matteo estava finalmente descendo, mas descendo mesmo, tipo coroando. Então pediram para mudar para a banqueta e o Thiago ficou atrás de mim, me apoiando. Eis que foram mais umas 4 forças e elas disseram “Olha o cabelinho dele!” isso me animou e me deu mais força, e na próxima contração uma vontade involuntária de fazer força e o grito saía sem controle…. e assim foi até sair cabeça e corpo!! 23h40 no dia 30 de março de 2019 nasceu o Matteo!! Que emoção!!! Que sentimento sem explicação!!! Naquele momento tudo parou, eu e o Thi choramos juntos vendo nosso pedacinho ainda ligado em mim pelo cordão umbilical. Desde o nascimento ele não desgrudou de mim. Isso mesmo, não foi para berçário nenhum só colinho de mamãe e papai. No pacote também contratamos os pediatras parceiros do Coletivo, que fez também toda diferença não só pelo tratamento com o bebê mas também por toda humanidade respeitando as vontades dos pais.

Minhas considerações:

– Qual foi o momento mais difícil: CONTRAÇÕES!

– Mas e o nascimento em si?! Ele é involuntário, você sente que tudo se abriu naquele momento para a passagem do bebê, queima, mas com certeza foi o momento mais fácil e menos dolorido, acreditem!

Sobre o Coletivo Nascer: Que projeto lindo! Que equipe maravilhosa, humana! Só tenho a agradecer por tudo e todos! Que vocês cresçam e possam chegar a tantas outras gestantes,

Obrigada!!!

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