Já passávamos dos 6 meses juntas, sentia você crescendo cada vez mais e começava a sentir seus movimentos. Já depois de muito ler e pesquisar, em uma insana busca por algo que deveria ser direito de todas as mulheres , um parto que respeitasse nosso momento, que respeitasse meu corpo e minhas decisões, encontrei o Coletivo Nascer.
Um grupo de médicas dedicadas ao parto humanizado, hospitalar com preços acessíveis. Era isso! Não existem palavras para agradecer a queridíssima Thaís Barral, minha doula, pela indicação. Foi amor ao primeiro encontro. Ao entender a proposta do coletivo tive a certeza que estaríamos bem acompanhados. As consultas de pré-natal, que antes eram 15 minutos de olhar para os exames e dizer que estava tudo bem, passaram a ser 2 horas de roda de conversa. Uma consulta coletiva, com muitas gestantes compartilhando suas vivências, seus medos, suas angústias e expectativas. Comecei a entender de verdade minha gestação. Comecei a entender o parto. E principalmente, comecei a me senti acolhida!
A cada encontro um abraço no coração. Já na primeira consulta tive certeza que estaríamos em boas mãos. Aquele coletivo de mulheres, médicas, parteiras e obstetrizes, trabalhavam para garantir que nós tivéssemos o respeito, a acolhida e todo o amor necessário na hora de parir. Nosso parto demorou pra chegar. A DPP, dia 13/11, passou sem nenhum sinal de TP. Chegou o feriadão, uma emenda maravilhosa de 15 a 20 de novembro, chegou também a confirmação da escolha certa, que alívio saber que não teria uma cesárea “indicada” por motivos de: viagem na com a família! (Nada contra as viagens, acho que médicos tem que ter vida tb! Mais um motivo de encantamento do coletivo!) Passamos o feriado, teve cinema, teve caminhada, teve acupuntura, descolamento de placenta (sempre acompanhada de pertinho da melhor equipe), só não teve contração…. A ansiedade começou a bater na porta!
Filha, vem logo, estamos prontos, estamos te esperando! Dia 22/11, quinta-feira, acordo angustiada, ela não quer vir? Não aguento mais esperar… Choro. Tenho medo. Ligo para minha Doula e a Thaís prontamente me diz que está a caminho, que passará o dia conosco. Fê já avisou no trabalho que preciso dele. Mais uma vez, acolhimento. Abraços. Palavras de apoio. Este sentimento é normal. Ela está vindo. Conversamos, demos risadas, comemos, cantamos. O medo e a ansiedade são inimigos da Ocitocina, hormônio do amor, grande responsável pelo trabalho de parto. Thaís prepara um escalda pés, me mantém quentinha com cobertas, me sinto segura, relaxo. Começa a escurecer. Sinto a “primeira” contração (nessa hora vc entende porque as outras eram só treinamento). Opa, Começou!
Rapidamente elas aumentam de intensidade. Não consigo mais ficar sentada. Levanto, caminho. Avisamos o Coletivo. Nossa obstetriz, Jéssica, está a caminho. Entro no banho, vai melhorar a dor, as contratações vão diminuir, temos que ganhar tempo. Elas aumentam. Sinto que não vou dar conta. Grito pelo Fe. Abraço, carinho. É isso, não vai demorar, ela tá vindo! Vamos embora… Jéssica chega. Corremos. Tá nascendo. Não faz força. Vai nascer?! E agora? Tá tudo bem, ela vai prós seus braços. Ela tá vindo. Aaaah. Assopra. Será que chegamos a tempo? Vou cortar pelo posto. É na próxima esquina. Chegamos. Chegamos na maternidade!!! Mas e a médica? A Renata está vindo. Passamos pela triagem sem exame. Está nascendo. Total mais um. Deito na maca. Todos somem. Jéssica e Thaís vão se trocar. Fê está estacionando. A equipe do hospital já sabe que estou com o Coletivo. A Olívia ligou. A Renata está vindo. A Andrea vai receber enquanto a Renata não chega. Quantos nomes, quantas mulheres. O coletivo agora era uma rede. Uma rede que tava pronta para me amparar! Uma rede de apoio, de acolhimento, de força! No meio da partolandia a única certeza que eu tinha era que tinha feito a escolha certa, escolhendo uma equipe tão maravilhosa! Entramos na sala e ninguém me deu instruções. Eu fui indo, me encontrando no espaço. Deixava as contratações virem. Jéssica chegou. Está tudo bem. Fê e Thaís chegaram.
Pronto filha, pode nascer. A Jéssica me traz uma banqueta. Nunca tinha visto uma dessas achei que não fosse saber o que fazer. A Andréa se sentou no chão na minha frente. Minutos depois a Renata chegou e se juntou a ela. As duas, sentadas de pernas cruzadas. Seus olhares calmos me diziam: está tudo bem. Chegou a hora. Entre uma contração e outra, balbuciei. E agora, o que eu faço. E a resposta: “o que você quer fazer?”. Mais uma contratação. A força era involuntária, voluntária, desmedida, de outro mundo. Cecília nasceu e veio para meus braços. Ela nos meus e eu nos braços do meu amor. O Fê estava logo atrás. Me apoiando literalmente naquele nosso momento. Ela abre os olhos. Olhos de jabuticaba, como os do pai. Nós três, juntos, olho no olho. Um abraço por tempo indeterminado. Pele a pele. 20h46 Ela nasceu. Era dia de Santa Cecília. Era dia de Cecília!